'Há formas de impedir que a Petrobrás assuma prejuízo com interferências', diz candidato ao conselho

Por: Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo
Fonte: Estadão
Depois da interferência do governo federal, que decidiu pela substituição
do presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, pelo general
Joaquim Silva e Luna, os olhos do mercado se voltaram ao Conselho de
Administração da estatal, órgão fiscalizador da empresa. “Há formas de
impedir que Petrobrás assuma prejuízos de interferências. O conselho é o
guardião da governança corporativa da Petrobrás”, afirma o conselheiro
fiscal da petroleira desde 2019 Marcelo Gasparino, que acaba de ser
indicado ao Conselho de Administração da petroleira como representante
dos minoritários.
Segundo ele, que também é conselheiro da Vale e Eternit, a questão da
paridade no preço dos combustíveis causou importante reação dos
acionistas da companhia. Ele sugere que tal questão poderia ser tratada
dentro dos comitês de investimentos e de minoritários, de forma a impedir
que a companhia assuma “qualquer prejuízo em relação de qualquer
interferência em sua política energética nacional”.
A Assembleia-Geral Extraordinária que vai destituir Castello Branco do
Conselho de Administração da Petrobrás e eleger os novos conselheiros
está marcada para o dia 12 de abril. Veja, abaixo, os principais trechos da
entrevista.

Qual a razão de os acionistas minoritários da Petrobrás se unirem para
buscar uma cadeira a mais no Conselho de Administração?
Os investidores institucionais estão mais conscientes quanto ao seu papel
junto às companhias abertas e quanto às regras do jogo. Em qualquer
companhia com controlador que detenha 50,5% das ações ordinárias, os
minoritários têm a possibilidade de eleger até o mesmo número de
assentos. No caso da Petrobrás, para essa eleição de oito assentos, os
minoritários poderiam buscar eleger até três conselheiros, mas optaram em
concorrer a apenas duas vagas.

A indicação do seu nome tem apoio dos grandes acionistas minoritários
da companhia?
Considerando o porte da Petrobrás, sim, do maior acionista local da
companhia e de outros institucionais. Como foi uma decisão tomada nesta
semana, apenas dois acionistas estão subscrevendo a indicação, o FIA
Dinâmica Energia e o RPS Partners, mas outros institucionais foram
procurados e declararam apoio aos dois candidatos, eu e o Leonardo
Antonelli, que tem feito um excelente trabalho no conselho da petroleira.
Qual a visão desse grupo em relação ao futuro da Petrobrás?
Trata-se de uma estatal, e assim imagino que continuará sendo, mas
desenvolvendo suas atividades em caráter de livre competição com outras
empresas e segundo as condições de mercado, de onde vem a necessidade
de manter o foco no 'core business' e onde ela tem excelência operacional,
que é a exploração e produção de óleo e gás em águas profundas. Em
decorrência de operações desastrosas no passado, a companhia vem
trabalhando para recuperar a rentabilidade das operações e a credibilidade
junto ao mercado internacional através de uma correta política de
desinvestimentos, da gestão de alocação de capital e do retorno ao
pagamento de dividendos, fundamental para que grandes gestoras que
administram dinheiro de fundos de pensão possam acreditar numa sólida
política de dividendos.

De que forma o conselho pode mitigar riscos de futuras ingerências
políticas?
O Conselho de Administração é o guardião da governança corporativa da
Petrobrás, que vem funcionando bem e que continuará sendo presidido
pelo almirante Eduardo Bacellar, portanto, não vejo riscos de grandes
mudanças de rumo. Mas a questão da paridade no preço dos combustíveis
causou importante reação dos acionistas da Companhia. Há formas de
impedir que a Petrobrás assuma prejuízos de interferências. Uma sugestão
é que os comitês de investimentos e o de minoritários, que, segundo o
estatuto da empresa, devem tratar de qualquer proposta da União que
resulte em assumir obrigações e responsabilidades, sejam os ambientes
para que essa questão do ajuste dos preços seja tratada. Isso poderia
garantir que o assunto seja tecnicamente tratado, impedindo que a
Petrobrás assuma prejuízo em relação a qualquer interferência em sua
política energética nacional.

O senhor é hoje conselheiro da Vale e candidato à reeleição. Existe algum
conflito?
Pelo contrário, são indústrias parecidas, cíclicas e com riscos operacionais
relevantes, dado o alto impacto quando ocorrem acidentes. É prática nas
grandes petroleiras ter em seu conselho pessoas da mineração, como, por
exemplo, a Shell, que tem um ex-CEO da BHP e um ex-conselheiro da Rio
Tinto. A maior produtora do mundo, a Saudi Aramco, tem como membro
do seu conselho o ex-chairman da Anglo American. Fora isso, fui
conselheiro de administração da maior estatal de energia da América
Latina, a Eletrobrás e sou da Cemig, além de professor de certificação para
administradores de estatais e sociedades de economia mista da ENÁ Brasil.
Acredito que meus 10 mandatos como conselheiro de administração em
estatais e dois como conselheiro fiscal da Petrobrás serão um diferencial
para contribuir nesse mandato tampão de apenas 1 ano, que é o tempo
mínimo que um profissional precisa para conhecer a companhia, sua
cultura e sua estratégia.